O mercado brasileiro de aparas de papel atravessa um momento de forte transição em 2025. Alterações na legislação, oscilações nas importações, alta nos preços e um cenário econômico misto estão provocando incertezas tanto para recicladores quanto para fabricantes de papel e embalagens. Neste artigo, reunimos os principais dados e tendências que moldam esse setor essencial para a cadeia da economia circular.
Em resposta às críticas de catadores e empresas de reciclagem, o Governo Federal revogou o Decreto 12.438/2025, que havia facilitado a importação de aparas. A nova norma, o Decreto 12.451, voltou a restringir esse comércio conforme determina a Lei 15.088/2025. A intenção foi proteger a cadeia nacional de reciclagem, mas a medida pode gerar distorções de mercado.
O histórico mostra que interferências artificiais tendem a criar efeitos adversos. Exemplo disso é o que ocorreu na China: ao limitar importações diretas de aparas, o país acabou incentivando a entrada de celulose reciclada de países vizinhos, um produto que, essencialmente, cumpre o mesmo papel, mas por outra via logística.
No Brasil, há indícios de movimentação semelhante: cresce a importação de papéis reciclados já prontos, como miolo e testliner, que somaram 10,2 mil toneladas no primeiro quadrimestre de 2025, volume expressivo em comparação às apenas 743 toneladas importadas em todo o mesmo período de 2024.
Apesar do alto custo logístico, as importações de aparas ocorrem sempre que há desequilíbrios severos no mercado interno, como vimos na pandemia e mais recentemente após as enchentes no Rio Grande do Sul. Ainda assim, mesmo em picos, o volume importado raramente ultrapassa 3% do consumo mensal, o que limita seu impacto direto nos preços internos.
No entanto, a entrada crescente de papéis reciclados prontos (como testliner) é motivo de alerta. Isso reduz a demanda por aparas nacionais sem impedir sua geração, prejudicando duplamente a cadeia de reciclagem brasileira.
O primeiro quadrimestre de 2025 foi marcado por altas expressivas nos preços das aparas marrons, impulsionadas por baixa oferta, estoques reduzidos e aquecimento na produção de embalagens. Em abril, os preços médios foram:
Ondulado I: R$ 1.413,86/tonelada (↑9,4% em relação a março)
Ondulado II: R$ 1.237,03/tonelada (↑7,9% em relação a março)
No acumulado do ano, os reajustes somam cerca de 21,5%, com valores praticamente o dobro dos registrados em abril de 2024.
O impacto já chega ao custo de produção: o papel miolo, por exemplo, teve aumento de 2,3% em abril e acumula alta de 4,2% no ano, segundo monitoramento da Anguti.
Apesar do enfraquecimento da economia em algumas frentes, a indústria brasileira mantém crescimento. No primeiro trimestre de 2025:
A produção de bens duráveis, grande consumidora de papelão, cresceu 11,6%
A indústria geral cresceu 1,9% frente ao mesmo período de 2024
O consumo interanual de aparas em março foi 3,1% superior
Esse cenário impulsiona a demanda por aparas, mesmo que os dados de comércio e geração ainda não estejam completamente disponíveis devido aos feriados de abril e maio.
Embora a expectativa de crescimento na expedição de caixas e chapas tenha sido revisada de 5,0% para 2,0%, o setor continua ativo. Entretanto, há um descompasso entre os aumentos de custo (especialmente por conta das aparas) e a capacidade dos fabricantes de caixa de repassar esses reajustes ao consumidor final.
Enquanto isso, o mercado de chapas de papelão ondulado, destinado a produtores menores, está aquecido.
Após meses de estabilidade, o mercado de aparas brancas volta a registrar movimentos:
Branca III: R$ 920,00/tonelada (↑6,9% em abril)
Branca II: R$ 1.305,00/tonelada
Branca 1ª: R$ 2.648,00/tonelada (preço estável desde julho de 2024)
Com os preços das aparas brancas inferiores aos das marrons, cresce a prática de mistura nos processos de produção. Por outro lado, a geração de aparas brancas tende a cair junto com o declínio do consumo de papéis de imprimir e escrever.
Enquanto as exportações totais de aparas recuaram 35,6% no ano, o Kraft Liner tem se destacado: foram 146,7 mil toneladas exportadas no primeiro quadrimestre — um crescimento de 2,7% frente ao mesmo período de 2024. A demanda chinesa pode manter esse ritmo nos próximos meses.
O mercado de aparas de papel em 2025 está sendo moldado por forças opostas: intervenção regulatória, escassez pontual de oferta, pressões de custo, transformação industrial e desafios globais. A imprevisibilidade de curto e médio prazos exige planejamento ágil, políticas públicas coerentes e inovação nos modelos de reciclagem e produção.
Na Paper Green, seguimos atentos a esses movimentos, comprometidos com soluções sustentáveis que valorizem a economia circular e protejam todos os elos da cadeia, do catador ao consumidor final.